Por que dona Iara resolveu se esconder?
No Brasil de tantos desvios morais, é comum quem anda, de fato, na retidão, virar celebridade da noite para o dia. É o que está acontecendo com a Cidadã (com direito a cê maiúsculo mesmo) Iara Fernandes. Inscrita há anos no Bolsa Família, instrumento criado para resgatar famílias da vulnerabilidade social, ela resolveu procurar, por iniciativa própria, a secretaria de Assistência Social de Ilhéus, no sul do estado, para pedir o seu desligamento do programa. Motivo: melhorou de vida, saiu da condição de miserabilidade, viu o seu filho - o mais velho dos quatro que possui - ingressar na Marinha e passar a perceber um salário que dá para a sua sobrevivência e ainda ajudar a família. Para ela, este dinheiro que hoje recebe deve ficar para quem mais precisa.
A decisão de dona Iara não teria tamanha repercussão se não vivêssemos num País onde algumas pessoas, dentre outros absurdos, até com carro de luxo na garagem da casa própria cometem o crime (isso não é apenas uma ilegalidade) de ingressar no programa e tirar o pão da boca de quem não tem absolutamente nada para comer. Além do benefício financeiro, recebem e propagam aos quatro cantos que "isso é normal" e que, quem não faz, tem apenas inveja de quem consegue tirar um pouquinho do governo.
Tristeza é que Iara, que deveria ser regra, é apenas exceção. Iara, a brasileira que o Brasil sério tem a obrigação de aplaudir, agora se esconde até de quem quer apertar com orgulho a sua mão e valorizá-la pelo exemplo cada vez mais raro num País onde a maioria "gosta de levar vantagem em tudo".
O Jornal Bahia Online, cuja marca é a competência na investigação jornalística de qualidade, localizou a casa de Iara. Simples como ela. Mas tão decente quanto o seu exemplo de mulher, mãe e brasileira. Iara não põe os pés na rua desde o anúncio da sua decisão. Está assustada com a repercussão. Pelo telefone, quem atende, se identifica como a sogra dela e é rápida na resposta: Iara viajou.
Iara, a brasileira decente agora se esconde como se fosse uma criminosa sem noção. Esconde o rosto não por vergonha. Mas por medo. Iara, senhores, é a cara do Brasil, um país onde velho é chamado de estorvo, aposentado de vagabundo, técnico de futebol virou professor, e professor virou tio.
Onde uma Cidadã de verdade deve estar, por muitos, sendo chamada até de louca ou besta.
E onde tantas excrescências continuam sendo chamadas de excelências.